Feliz 2013!!!

“Histórias da Roça” por Fernando Reis

ImagemUm dos meus sítios preferidos em Lisboa é a Fábrica Braço de Prata, onde já passei muitos bons momentos. E um desses momentos foi uma das noites dedicadas a Cabo Verde onde descobri no meio de livros usados, numa bancada no corredor, a “Histórias da Roça” de Fernando Reis por apenas 1 €.

Numa altura em que ainda estava a recuperar dos efeitos secundários de ter feito voluntariado em S. Tomé e Príncipe (leia-se umas saudades arrasadoras e uma vontade de voltar que só quem já la viveu compreende), este livro foi um bom piscar de olhos do destino 😉

O livro foi escrito na década de 70 e inclui vários contos passados na ilha de S. Tomé que (e são palavras do autor não minhas) ora se revela um inferno verde de onde e impossível fugir, ou cria um feitiço sobre os expatriados de tal forma que os mantém presos àquele mundo.

A forma de escrita não é particularmente interessante, os contos são muito simples e quase infantis, mas foi bom reviver lugares e sensações que só se vivem em S. Tomé.

Tive também o bónus de o livro vir com uma dedicatória, algo que me faz sempre sonhar com as vidas que o livro já viveu antes de mim:

“Ao distinto jornalista Arnaldo Neves, um amigo que o destino me deu, estas Historias da Roça, a bordo do “Infante Dom Henrique”, algures, no Golfo da Guiné, em 1/7/1970, com um abraço…

*uma assinatura que não consigo identificar.

Ainda procurei na Internet pelo “distinto jornalista Arnaldo Neves” mas parece que a historia não o tratou com tanta deferência como o seu amigo 😉

Termino com a minha passagem favorita do livro, uma vez que me revejo muitas vezes nas palavras desta personagem:  “(…)- Isto parece feitiço mulher! Anda-me esta lembrança do mato, do calor, do mar, daquela terra, tudo a bulir-me cá dentro, e, por mais que faça por esquecer, cada vez me lembro mais!(…) ”

“Burma Chronicles” por Guy Deslie

burma_enDurante o Natal deste ano descobri numa das prateleiras do quarto da minha irmã, uma pequena pérola da BD… Guy Deslie…A sério que gostava de saber como é que a miúda consegue descobrir estas coisas…

Guy Deslie é um ilustrador Canadiano, com vários álbuns publicados, nos quais se incluem Burma Chronicles e Jerusalem, duas obras que escreveu enquanto acompanhava a sua mulher numa missão dos médicos sem fronteiras nestas duas cidades. O resultado: fantástico!

O livro que li foi Burma Chronicles onde, num traço bastante simples e descontraído, Guy relata-nos as aventuras birmanesas de pai que fica em casa a tomar conta do filho enquanto a esposa anda a salvar vidas nos médicos sem fronteiras.

O que torna esta obra tão especial é a forma como Guy intercala situações do dia a dia com uma criança num país estrangeiro (idas ao supermercado, reuniões de bebes ou conversas descontraídas com o porteiro) com os problemas socio-politicos existentes num pais sob o comando de uma ditadura militar (censura da imprensa, demonstrações de poder militar, atentados e ter uma prémio Nobel , Aung San Suu Kyi, na sua prisão domiciliária, ao fundo da rua.

Este livro, que apesar do tamanho, devorei numa tarde, abriu-me o apetite para o resto da obra. Espero em breve conseguir deitar a mão ao “Jerusalem”, depois conto aqui como foi 😉

Entretanto podem ir dando uma vista de olhos no blog do autor aqui.

Considerações finais: se eu tivesse de escolher ser uma personagem de bd de todas as existentes, era definitivamente a esposa de Guy!

História do Tibete – Conversas com Dalai Lama – Por Thomas Laird

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Este livro teve um significado especial para mim que começou com a sua aquisição. Encontrei-o à minha espera na Ler Devagar, antes de entrar para um evento organizado por uma amiga de uma amiga que fez voluntariado na Palestina juntamente com outras duas raparigas e que se juntaram para contarem a sua experiência.

Foi uma noite verdadeiramente única onde este livro faz todo o sentido pois a historia Tibetana e Palestiniana cruzam-se em muitos aspectos, sendo a forma de luta a principal diferença  entre as reivindicações de ambos os povos: enquanto os palestinianos continuam a enviar bombistas suicidas para Israel os tibetanos mantêm-se fieis ao caminho da não violência.

Considerações socio-politicas à parte, adorei este livro. Antes de o ler já tinha um grande respeito por sua santidade o Dalai Lama que cresceu depois desta leitura.

Neste livro, o jornalista Americano Thomas Laird estuda o desenrolar da história tibetana desde a sua fundação mística ao momento actual da diáspora, discutindo sempre as suas descobertas com o Dalai Lama em entrevistas informais e descontraídas.

Ao contrário do que possa parecer, o livro não é nada aborrecido, a história é relatada de uma forma bastante dinâmica e as observações do Dalai Lama são realmente únicas e fazem-nos pensar sobre a forma como olhamos a história.

O que mais me impressionou foi o facto do Dalai Lama fazer sempre duas leituras dos acontecimentos: a leitura histórica e leitura mística e realmente se olharmos para a história, existem tantas coincidências inexplicáveis… Gostei também da forma como o Dalai Lama nunca procura culpados, tentando sempre ver as duas faces da mesma moeda. Não existe nem bom, nem mau, apenas produtos de uma época, de uma situação, de um tempo… Fica ainda explicado porque é tão delicada a situação do Tibete na comunidade internacional, primeiro devido ao cariz particular da sua forma de governo em que a religião assume um papel de tal maneira preponderante que não existiam relações politicas nos moldes que concebemos no Ocidente. Depois, para agravar tudo, existe o facto de o país invasor ser a China, que possui um peso imenso no panorama internacional.

Este é um livro indispensável para qualquer pessoa, que nos faz compreender os jogos de poder no panorama da politica internacional e que nos abre a mente para muitas questões em que nuca havíamos pensado…