“Bertrand em risco de perder grandes editoras
por Isabel Lucas
Entrar numa livraria Bertrand e encontrar um exemplar de um romance de António Lobo Antunes, de Ian McEwan ou o último livro de José Rodrigues dos Santos pode ser uma impossibilidade. Tudo por causa de um diferendo que envolve aquela cadeia de livreiros e algumas das maiores editoras portuguesas. Desde Maio que a Bertrand Livreiros não faz compras à Gradiva, Cotovia, Porto Editora ou Dom Quixote, para dar alguns exemplos. Em causa está a recusa por parte destas editoras em aceitar as novas condições de compra que consideram ser “impostas” pela Bertrand, grupo recentemente adquirido pelos alemães da Bertelsmann.
Numa circular com a data de 9 de Maio de 2007, a Bertrand Livreiros informava os seus fornecedores sobre alterações no processo de compra, distribuição e devolução de livros. “Informamos que, a partir do próximo dia 14 de Maio de 2007, todas as devoluções e entregas de livros nas Livrarias Bertrand serão da responsabilidade e custo dos fornecedores.” O conteúdo desta nota gerou a contestação de um grupo de editores, entre os quais se conta André Jorge, da Cotovia. “Isto é contrário a toda a lógica”, declarou ao DN. “Mas o que mais me incomodou não foi tanto o conteúdo, mas o tom”, que classifica de impositivo.
Leitura idêntica tem Pedro Sobral. O director de comunicação e marketing da Dom Quixote considerou os novos requisitos da Bertrand como “decisões unilaterais e extraordinárias”, não habituais no relacionamento que existia entre a editora e a anterior administração daquela cadeia livreira.
Sem receber uma encomendas da Bertrand desde Maio, a Cotovia calcula uma queda de 14 por cento no total das suas vendas e chama a atenção para o reflexo que tal medida – suportar os custos da devolução dos livros não vendidos- pode ter no mercado livreiro. “Isso implica, a breve prazo, ter de aumentar o preço de venda dos livros em prejuízo de todos, mas sobretudo do público.”
O facto de terem de ser as editoras a suportar custo das devoluções representa uma perda entre os 4 e os 6 por cento nas margens de cada uma das casas editoriais. Um preço que nem a Cotovia nem a Gradiva, Dom Quixote, Porto Editora Verbo, Lidel e ECL estão dispostas a pagar para ter os seus livros nos escaparates da cadeia de livrarias Bertrand.
Numa resposta remetida ao director-geral da Bertrand Livreiros, André Jorge fez uma contraposta. “Um levantamento de mercadoria devolvida apenas uma vez por mês e num mínimo de 15 livros por livraria”, Isso além de um desconto geral único de 40 por cento em vez dos 42 que a Bertrand propunha. Não recebeu resposta. Não voltou a ter encomendas. O mesmo que aconteceu com a Dom Quixote. Perante essa unilateralidade [da Bertrand] a Dom Quixote tentou resolver a questão até que a Bertrand deixou de fazer compras.”
Recusando-se a comentar questões contratuais (cada editora tem as suas) e o que considera ser uma inflexibilidade por parte da Bertrand, Pedro Sobral não contabiliza, para já, prejuízos. “Temos planos contingência, já que o mercado não é cem por cento previsível.” Isso passa, por exemplo, por vender em canais alternativos. “Este é um dado novo e o que queremos é permitir aos nosso autores a mesma visibilidade e capacidade de chegar aos seus leitores.”
Fonte: Diário de Notícias ”
Nota: não copiei esta notícia directamente do Diário de Noticias porque não a consegui encontrar on-line, por isso utilizei como fonte o fórum Bad Books Don’t Exist.
Sinceramente, o que me preocupa nesta história, é o facto de a Bertrand estar a tentar puxar o mercado de maneira a que sejam as livreiras e não as editoras a estabelecer as regras, o que na minha opinião, tornará inevitavelmente o mercado dos livros ainda mais economicista, sendo os leitores os verdadeiros prejudicados nessa situação.
Raramente comprei livros na Bertrand, uma vez que sempre achei esta muito mais cara do que a FNAC ou mesmo algumas livrarias tradicionais, como a livraria “Portugal” na Baixa de Lisboa, onde os empregados fazem quase sempre uma atençãozinha ao preço do livro. Depois desta notícia, penso que não voltarei a fazer compras nesta livraria, a minha pequena forma de protesto…